O desempenho do Brasil no Pisa 2022 acendeu um alerta: menos de 30% dos estudantes atingiram o nível mínimo em matemática. Em contraste, o Japão manteve 77% de proficiência e segue como referência em qualidade de ensino.
Diante desse abismo, educadores analisam como práticas japonesas — de currículo integrado a forte participação comunitária — podem inspirar mudanças locais. A seguir, confira seis lições do Japão para repensar a educação brasileira.
1. Currículo como pacto social
Enquanto a Base Nacional Comum Curricular ainda patina na aplicação, o Course of Study japonês é obrigatório em todas as escolas e define metas claras para cada ano letivo. Esse alinhamento garante que estudantes, independentemente da região, aprendam os mesmos conteúdos-chave.
Além disso, o currículo japonês conversa diretamente com a formação de professores. Por meio do lesson study, educadores planejam, aplicam e avaliam aulas em grupo, transformando o documento curricular em guia prático de sala de aula. Essa integração reduz lacunas de aprendizagem e sustenta altas expectativas para todos.
2. Educação holística e responsabilidade compartilhada
No Japão, o aprendizado não fica restrito ao conteúdo acadêmico. Habilidades socioemocionais, autonomia e senso de comunidade fazem parte da rotina. Exemplo clássico: alunos limpam salas e banheiros diariamente, cultivando respeito pelo espaço coletivo.
Inspirado em valores confucionistas e práticas humanistas, o modelo prioriza trabalho em equipe e empatia. O resultado é menor indisciplina, maior vínculo com a escola e estudantes preparados para colaborar em diferentes contextos.
3. Valorização real da carreira docente
Ser professor no Japão é sinônimo de prestígio. O processo seletivo inclui exames competitivos, salários iniciais equivalentes a outras carreiras de nível superior e progressão garantida. Essas condições atraem jovens talentosos e mantêm elevada a qualidade do corpo docente.
A formação continuada também é prioridade. O lesson study, citado anteriormente, ocorre durante todo o ano letivo e concentra investimentos que, proporcionalmente, superam gastos com tecnologia escolar. Para o Brasil, a lição é clara: sem professores bem formados e respeitados, reformas curriculares perdem força.
4. Comunidade engajada no dia a dia escolar
No sistema japonês, famílias e moradores se veem corresponsáveis pela educação. Pais participam de reuniões frequentes, festivais, preparo de merenda e até monitoram a travessia de ruas perto das escolas. A presença constante fortalece o senso de pertencimento e cria uma rede de apoio ao aprendizado.
No Brasil, ainda há barreiras entre escola e família. Superá-las passa por acolher saberes locais, abrir espaço para decisões coletivas e institucionalizar mecanismos de participação. Quando a comunidade confia na escola, a aprendizagem ganha novos aliados.
5. Equidade como política de Estado
Os dados da OCDE mostram que a condição socioeconômica explica 20% da variação no desempenho brasileiro, contra 12% no Japão. Lá, políticas de distribuição de recursos, transporte, merenda e atividades de reforço reduzem disparidades regionais.
Meta comum e expectativas altas para todos impedem que alunos de baixa renda sejam vistos como menos capazes. Para ampliar a equidade, o Brasil precisa investir em infraestrutura escolar, apoiar docentes nas periferias e garantir que cada estudante encontre condições dignas de aprender.
6. Cultura de esforço e persistência (ganbaru)
Ganbaru é o conceito que celebra esforço contínuo e superação de desafios. Nas escolas japonesas, horários rígidos, pontualidade e avaliações frequentes moldam a disciplina. Um aluno dedicado recebe mais reconhecimento que aquele com talento natural, mas pouco empenho.
Essa mentalidade reduz evasão e incentiva resiliência. No Brasil, construir cultura semelhante requer rotinas estáveis, políticas de permanência e valorização do esforço em detrimento de resultados imediatos. A persistência, afinal, é combustível para o aprendizado duradouro.
Parcerias internacionais apontam caminhos
Em agosto, o vice-presidente do Biopark, Paulo Rocha, visitou o Japão e firmou acordo com a Universidade de Tsukuba para projetos conjuntos e intercâmbio de estudantes. A cooperação busca aplicar no Brasil práticas bem-sucedidas de formação docente e inovação pedagógica.
Rocha defende adaptação, não cópia: valores como colaboração, excelência e visão de longo prazo precisam dialogar com a realidade brasileira. O movimento reforça que mudanças estruturais exigem compromisso coletivo, como lembra o blog Curso Agora eu Passo ao destacar a importância de olhar modelos internacionais com senso crítico.
Por que essas lições importam agora?
Com resultados do Pisa 2022 escancarando desafios em matemática e leitura, repensar estratégias é urgente. As lições do Japão para a educação brasileira oferecem referências concretas para políticas de currículo, formação docente e engajamento comunitário.
Transformar o discurso em prática, porém, depende de vontade política, investimento contínuo e participação social. Se o Brasil assumir que qualidade e equidade são metas possíveis, as salas de aula podem, finalmente, alcançar o patamar que os estudantes merecem.
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